Sangue Total
O sangue total é classificado em fresco e estocado. Por definição, o sangue total é denominado de fresco até 8 horas em relação à coleta sem refrigerá-lo, ou seja, mantido em temperatura ambiente (20-24°C). Ele contém um número máximo de plaquetas funcionais se permanecer em temperatura ambiente até 6-8 horas após a coleta. Após este período, o sangue total passa a ser chamado de estocado, mantido refrigerado (2-6°C) por um período de estocagem que varia de acordo com o anticoagulante da bolsa. O sangue total refrigerado perde todas as suas características hemostáticas sendo portanto indicado apenas para correção de anemia em pacientes hipovolêmicos.
Armazenamento:
Citrato fosfato dextrose acetato – 1 (CPDA - 1): 35 dias, 4â°C (nunca congelar)
» Se permanecer à temperatura ambiente mais de 30 minutos, deverá ser usado nas 6 horas seguintes ou voltar a ser refrigerado, tendo uma validade de 24 horas.
Volume por unidade:
Cão: 400-500 ml
Gato: 45-50 ml
Administração:
» O sangue total canino apenas deverá ser usado em cães e o felino apenas em gatos.
» A via endovenosa deverá ser colocada no máximo até 24 horas antes da transfusão; se não for o caso, deveremos colocar novo cateter.
» Deverá usar-se um sistema de administração com filtro e um cateter de 16-20 G.
» O sangue total refrigerado deverá ser deixado à temperatura ambiente durante 30 minutos antes da sua administração, de modo a evitar hipotermia ou arritmias; deve evitar-se a imersão em "banho-maria" devido ao risco de sobreaquecimento, responsável por hemólise e desnaturação das proteínas a partir de 37ºC.
» O Htc deverá ser analisado antes e 3 horas após a transfusão, por forma a avaliar a resposta do paciente.
Cálculo do volume a transfundir:
Regra geral: 20 ml/kg de sangue total aumenta o Htc em 10%.
Fórmula
Volume de administração (ml) = Peso x (88 (cão) ou 66 (gato)) x ((Htc desejado – Htc do paciente)/Htc do doador).
O Htc desejado é geralmente + 10% do que o Htc atual do receptor; de uma forma geral deverá ser de 25-30% nos cães e 20-25% nos gatos.
O volume total transfundido não deverá exceder 22 ml/kg/dia, já que volumes superiores poderão induzir tetanias por hipocalcemias e estados de hipocoagulação, devido ao excesso de citrato administrado.
Velocidade de administração:
Nos primeiros 15-30 minutos a velocidade deverá ser lenta, 0,25 ml/kg/h, de modo a avaliar possíveis reações transfusionais. Em choque hipovolêmico por hemorragias agudas não se deverá realizar esta taxa inicial mais baixa.
Em cães normovolêmicos a velocidade deverá ser de 5-10 ml/kg/h durante 1-2 horas e em gatos 3-5 ml/kg/h, durante 2-3 horas.
Em animais em choque hipovolêmico por hemorragia poderão usar-se velocidades até 22 ml/kg/h. No entanto, poderão surgir arritmias por hipocalcemias, sendo aconselhável a monitorização do ECG e dos valores séricos de cálcio.
Em animais com risco de desenvolver sinais de sobrevolemia (insuficiência cardíaca, insuficiência renal ou hipertensão) a taxa deverá ser de 1-3 ml/kg/h, iniciando-se com a taxa mais baixa e aumentando gradualmente, caso não haja reações transfusionais (tetanias, taquipnéia, dispnéia, distensão das veias jugulares).
Em casos de hemorragias ativas por deficiência nos fatores da coagulação, deverá ser administrado sangue total a 6-10 ml/kg, BID-TID, 3-5 dias ou até controle da hemorragia.
» A via de eleição na administração do sangue é a via intravenosa, visto 100% do sangue transfundido entrar em circulação. Em animais muito jovens ou com comprometimento circulatório poderá usar-se a via intramedular (80-95% das células em circulação após 5 minutos); deverá introduzir uma agulha 18-20 G ou uma agulha de aspiração de medula óssea na fossa trocantérica do fémur ou no grande tubérculo do úmero. Poderá também ser usada a via intraperitoneal (50% do sangue entra em circulação após 24 horas e 70% após 48-72 h), no entanto as células sanguíneas transfundidas têm um tempo de vida mais curto.
Precauções / Contra-indicações:
» Apesar do sangue distribuído ser testado para a presença do Ag DEA 1.1, aconselha-se a realização dos testes de crossmatching maior e menor.
» Não se deverá transfundir simultaneamente lactato de ringer (na mesma via ou outra via parenteral). O fluído mais seguro é NaCl 0,9%, no entanto, excetuando os casos de rápida necessidade de expansão do volume circulante, não há benefício na infusão simultânea de cristaloides.
» Deverão ser usados sistemas de infusão com filtro.
» Apesar da tipificação sanguínea e do crossmatching realizado, poderão ocorrer reações adversas ou sobrevolemia. Esteja igualmente atento e monitore o animal com regularidade.
» Deverá realizar-se uma lavagem (flushing) dos cateteres com solução de NaCl antes e depois da transfusão.
» Não administre medicação parenteral na mesma via usada na transfusão.
» Deverá agitar gentilmente o conteúdo de cada bolsa de sangue antes de iniciar a transfusão.